terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma Questão de Princípio!



Ontem foi um dia especialmente difícil!

Desde logo, e como é evidente, por ser Segunda-Feira, o que só por si já dificulta muitíssimo qualquer tentativa de se passar um bom dia…

À parte esse pequeno grande pormenor, tive que lidar com um verdadeiro imbecil e trata-lo com a diplomacia que a profissão exige…, até onde as minhas entranhas naturalmente explosivas permitiram…

Tinha então agendado um julgamento cuja possibilidade de sucesso era remota, senão inexistente. Contudo, quase que por milagre, o colega que representava a parte contrária faz uma proposta de acordo, razoavelmente vantajosa para o meu cliente.

Toda satisfeita, contacto o interessado e dou-lhe a boa-nova… achava eu!

Do outro lado da linha, ouço um “nem pensar” determinado que me voltou o estômago ao contrário.

Sem desistir, lá convenço o rapaz a aceitar uma contraproposta que de seguida faço ao M/ colega.

Entre avanços e recuos lá chegámos a um valor intermédio que, não obstante não atingir as expectativas do M/ cliente, sempre seria muito superior àquilo que se poderia ganhar em julgamento…

À porta do julgamento o rapaz aparece acompanhado da “futura esposa” – assim apelidada certamente para legitimar o opinanço desenfreado da rapariga.

Expliquei aos dois que a nossa causa, levada a julgamento, apenas lhe(s) valeria pouco mais que uns trocados e que a proposta que estava em cima da mesa era mais que razoável, nomeadamente por representar o triplo daquilo que se podia ganhar.

Confesso que não entendo de que forma o meu discurso poderia deixar dúvidas…

Não obstante, o rapaz não aceitou….e ainda acrescentou aquela frase emblemática que tantas vezes se ouve em tribunal: “isto não é uma questão de dinheiro, é uma questão de princípio.”
Tem uma certa graça, tem….

Na sala de audiências, o Juiz, com toda a calma e clareza informa o M/ cliente que a teimosia não é boa conselheira, especialmente quando acompanhada de uma manifesta falta de prova (nesta altura a “futura esposa” capta a mensagem e fecha a matraca…. lamentavelmente tarde)!

O rapaz continua irredutível e eu, quase de joelhos, peço-lhe que aceite….O homem aceita!!!!!

Numa explosão de alegria olho para o meu colega e digo, “pronto, está feito” e ele responde-me: “Não, com tanta indecisão, mudei de ideias!"
Já seguro da sua boa posição na causa, reduz a proposta….

Com o estômago às voltas e a cabeça a latejar de tanta idiotice, lá vou eu dar a notícia ao meu "homem de princípios" e à sua "futura esposa"…. ao mesmo tempo que me apresso a realçar que a nova proposta, apesar de menor que a anterior, continua a representar mais do dobro daquilo que pode advir do julgamento.

Naturalmente, com a indignação estampada no rosto, não há acordo!

Siga para julgamento!