À porta da sala de audiências,
encontro-me com o cliente para a prosa do costume. Inteiro-me dos acontecimentos
e faço o prognóstico.
Uma condução com álcool… até aqui
nada de novo.
O cheiro a vinho que o homem
exala faz-me levantar a questão dos antecedentes.
- Ah, sim, já cá estive outras vezes…. Mas olhe, veja lá, tem que me
defender em condições que eu tenho que ficar bem na fotografia…
Venho a descobrir que o
curriculum é extenso, de fazer inveja a qualquer lista telefónica.
Perante isto, preparo o homem para
o pior. Ele ameaça-me dizendo que sabe onde é o meu escritório.
Do alto do meu metro e meio
faço-o perceber que entre os muitos predicados de um advogado não está o de
fazer milagres. Fazemos as pazes.
Agora que já somo amigos, pede-me
boleia para regressar… minto descaradamente dizendo que ainda vou ficar pelo
tribunal….
Como se aquilo estivesse a correr
bem diz-me:
- Ah, é verdade, tenho aqui o papel que me pediu - acto continuo,
levanta a camisola e saca o documento de dentro das calças (não do bolso),
enquanto o estende na minha direcção acompanhado de um sorriso.
- Deixe estar, logo me dá isso depois…. (enquanto tento desesperadamente
não tocar no papel ao mesmo tempo que reprimo o vómito e o choro).
O homem insiste: - Não, veja lá se é isso! Novamente aquele
sorriso.
Devia ter-lhe dado boleia!