Há dias assim, nem bem nem mal.
Não era um daqueles dias de gritar de euforia, mas a coisa
também não estava mal de todo.
Entre os afazeres do costume, calhou-me uma ida ao banco.
Tirei a minha senha e aguardei. Tinha apenas duas pessoas à
minha frente.
O cliente ao balcão finalizou a sua operação e dirigia-se
para a saída quando me reconheceu:
- Olá, como está, há tanto
tempo que não a via!
- Ah, olá, como vai o
Senhor?!!! (sorriso rasgado, como sempre… um dia hei-de aprender a ser
carrancuda!)
- Deixe-me olhar bem
para si, para ver como está! (olhar fixo)
- Está tudo bem, tudo na
mesma! (queria eu!).
- Não, não, não… já
vejo aí umas ruguinhas……!
Neste momento o meu coração parou, a minha cabeça girou
inadvertidamente para ver se alguém ouvia aquela barbaridade! Mas alguém, no seu
perfeito juízo, diz uma coisa destas?!!!!
Tentando disfarçar o azedume que me ia no estômago, olho a
criatura de lado e tento despedir-me, com algo do género:
- Pois, é assim! Prazer
em vê-lo! (há mentiras que se justificam!)
Mas o indivíduo não desarmou, e voltou à carga!
- Sabe, você faz-me
lembrar a Mariazinha, a minha ex-mulher, quando lhe começaram a aparecer as
rugas. O nosso Filho tinha um cão muito enrugadinho e eu dizia-lhe que ela parecia
o cão do Joãozinho….
Aqui morri, finei-me de vez e pensei: Puta que pariu, que se
o homem não se cala já, perco a compostura e solto a vadia que há em mim!
Aguentei-me, pensei nos meus Filhos e no exemplo que uma
lady deve dar, mesmo em situações de clara e repetida violência.
O homem foi-se embora, na graça do Senhor e eu… bem, eu…
fiquei a digerir aquela cena dantesca.
Nem consigo perceber porque razão a Mariazinha se pôs ao
fresco!!!